A cárie dentária é definida pela Organização Mundial de Saúde como “um processo patológico localizado, de origem externa, que se inicia depois da erupção dentária, determina um amolecimento do tecido duro do dente e evolui até à formação de uma cavidade”.
A cárie dentária é multifatorial. Dentro destes, existem fatores essenciais – primários (somente se todos estiverem presentes se inicia e desenvolve a doença) e outros que são modificadores – secundários (influenciam mais ou menos significativamente a evolução das lesões de cárie).
Os fatores primários (essenciais) são o dente (hospedeiro), os microrganismos (agente) e o ambiente (substrato). Os fatores secundários (modificadores) são a higiene oral, a exposição ao flúor, o estado de saúde geral, fatores socioeconómicos, a predisposição genética e os cuidados de saúde dentária.
Acerca dos fatores primários há que considerar também as condicionantes inerentes a cada um deles, por exemplo, em cada hospedeiro há uma maior ou menor suscetibilidade à cárie, assim como uma determinada composição e produção da saliva mais ou menos protetora. Sabe-se hoje que a saliva tem um papel importante na prevenção e reversão do processo carioso, funcionando como uma das principais defesas do hospedeiro contra a cárie dentária. Relativamente aos microrganismos, sabe-se hoje que os microrganismos responsáveis pelo início da cárie fazem parte da flora normal da cavidade oral (Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus, lactobacilos e Actinobacillus actinomycetemcomitans), mas por desarranjos do equilíbrio habitual crescem em demasia e com as restantes condições favoráveis (do hospedeiro e do ambiente) tornam-se patogénicos, desenvolvendo doença. Também o ambiente tem as suas condicionantes, que se relacionam com a dieta do hospedeiro.
Assim, a frequência de ingestão de alimentos cariogénicos (ricos em açúcares refinados e hidratos de carbono), bem como o tempo de permanência na cavidade oral, são fatores que propiciam o desenvolvimento da cárie dentária.
As bactérias cariogénicas encontram-se em pequenas quantidades numa placa bacteriana saudável, mas com certas alterações biológicas e ambientais, tornam-se dominantes na flora oral. Estas bactérias cariogénicas fermentam açúcares provenientes da dieta para produzirem ácidos que baixam o pH do local (ácido). No meio ácido dá-se a dissolução do fosfato de cálcio existente na estrutura do dente (desmineralização), mas inicialmente esta dissolução pode ser revertida por remineralização. Se o pH ácido persistir como resultado de elevado número de bactérias cariogénicas, consumo sustentado de açúcares e baixo fluxo salivar, a desmineralização sobrepõe-se à remineralização e a superfície dentária amolece progressivamente até ao ponto de rutura, criando uma lesão cavitária. Deste modo, a cárie dentária pode afetar: o esmalte (geralmente não há sintomatologia), a dentina (existe sensibilidade ao frio, doce e pressão) ou a polpa dentária (pulpite – dor intensa e aguda; dor em contacto com alimentos quentes ou mesmo espontânea, sem qualquer estímulo).
É importante salientar a importância do diagnóstico e tratamento precoces da cárie dentária, pois quanto mais desenvolvido estiver o processo patológico, maior será a implicação para o complexo dentina-polpa, havendo diminuição da resistência dos tecidos dentários, o que exige um procedimento restaurador mais extenso e complexo.
O tratamento mais eficaz para a cárie dentária é a prevenção, que deve começar em idades precoces, com a instrução para os hábitos corretos de higienização oral e para a dieta não cariogénica.
Quando instalada, e quando compromete apenas o esmalte e a dentina, o tratamento é cirúrgico e consiste na remoção da estrutura do dente afetado e na sua reconstrução com materiais que substituem a estrutura dentária perdida.
Quando a cárie atinge a polpa dentária o seu tratamento é mais invasivo, implicando também o tratamento dos canais radiculares do dente previamente à reconstrução dentária.
A eliminação de tecido cariado é geralmente realizada por meio de instrumentos rotatórios no consultório dentário. Pode ainda ser realizada com auxílio de aparelhos laser, ultrassons ou meios químicos.
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion – EUA. Oral Health: Preventing Cavities, Gum Disease, Tooth Loss, and Oral Cancers. 2011.
Clinical guidelines for treating caries in adults following a minimal intervention policy—evidence and consensus based report. J Dent. 2012 Feb;40(2):95-105.
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